terça-feira, 4 de maio de 2010

O HOMEM FRÁGIL


Dia 03 de maio de 2010 em frente à loja Marisa Lingerie as 16:13 estava um homem disponível para um trabalho artístico. Com calça preta, torso nu, uma rede de pescador que integrava-se à sua perna e tornozelo e intenção para realizar uma simples performance. Cinco mulheres o estimulavam com impulsos provocados por pinceladas pelo corpo, maçãs vermelhas na boca, cordas e outros objetos. Pessoas, transeuntes e curiosos começavam a parar para ver e tentar entender o que estava se passando ali. Haveria algo para ser entendido? Talvez sim, talvez não. Era apenas um exercício cênico.
Estávamos Todos disponíveis para o estímulo que a própria rua oferecia. Como sentíamos os estímulos! Vinham por todos os lados, frente, costas, pelas laterais, por cima, em baixo, vozes, sons, vibrações... Um turbilhão que nos penetrava pelos poros. Mas, um estímulo específico mudou, transfigurou o rumo da performance: “Quero ver se ele fica tão disponível sem as calças...”, falou alguém...
A performer não teve dúvida. Abaixou a calça do homem até o joelhos!
TODOS OS SEIS PERFORMES FICARAM NUS.
POR UM MOMEMTO HOUVE UMA SUSPENSÃO.
Por frações de segundo estabeleceu-se um silêncio ensurdecedor, na principal rua comercial da provinciana cidade industrial de São Bernardo do Campo.
Logo após o ato, a rua escutou uma mulher que falava incessantemente: “Que absurdo, é uma pouca vergonha, tem crianças na rua...”
O homem voltou a ficar vestido, mas era como se agora, só agora, estivesse completamente nu, frágil, desprotegido, sincero, aberto para o mundo, recebendo e doando sentimentos verdadeiros para ele.
A POLÍCIA CHEGOU, mais gente se aglomerou, a performance continuava...
- Posso saber o que está se passando aqui? Quis saber a policial com olhos inquisidores
- Isto é uma pesquisa teatral, respondeu uma performer.
- Tivemos a informação que o homem estava nu, por lei não pode ficar nu. Ficar nu, sem roupa, não é permitido por lei.
- Mas agora ele já esta vestido, interveio outra performer.
- Mas a senhora não acha que neste momento ele está mais nu do que se estivesse sem roupa, olhe nos olhos dele, ele esta desnudado! Disse a primeira performer
- Por lei não é permitido ficar sem roupa na rua.
- Então de cueca pode?
- É... Pode...
- Olha, eu queria dizer que está atrapalhando o caminho! Disse um velho de óculos escuros intrometendo-se na conversa. Porque vocês não fazem isso na praça?
- As pessoas estão aqui paradas olhando porque querem, disse a performer alterada.
O espaço ocupado pela cena era de meio metro quadrado. O público aglomerava-se em vários pontos da rua, o transito parou. A cena foi transfirida para o outro lado da rua. O olhar ávido das pessoas queriam saber o que estava se passando ali, eram torrentes de perguntas. Muitas os performes tentavam responder com réplicas de perguntas e outras perderam-se na efervescência da ação. Fato é que por alguns minutos a rua comercial parou para presenciar um ato artístico, que por si só já foi válido, pois fez com que as pessoas ali de corpo presente, estivessem realmente no presente do presente, que era o verdadeiro objetivo do exercício.

2 comentários:

  1. cada vez mais, me sinto desprotegida, nua de alma. Os impulsos estão sendo absorvidos pelo meu corpo; minha cabeça ainda dói.

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  2. Cibele Mateusmaio 06, 2010

    Só uma coisa não me sae da cabeça. As pessoas param para ver o exercício cênico (prefiro não chamar de performanse).E nós, o que estamos mostrando?

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