Bússula para navegação


BÚSSULA PARA NAVEGAÇÃO.
Instrumentos de navegação para ambulantes em viagem.

Porque Coletivo?

O Coletivo é uma reunião de artistas AUTÔNOMOS e integrantes ou não de outros grupos, é algo diverso e aberto, no sentido de dar espaço e margem a pensamentos diferentes, dissonantes ou não e, com isso, criar um diálogo, por vezes mais rico, numa dialética constante e que se fundamenta em três pilares: o primeiro é ter como espaço de atuação e investigação a rua e seus ilimitados locais, o que permite o aprendizado constante no diálogo com cada espaço de atuação; o segundo é a investigação de si mesmo (auto conhecimento) e os vários corpos que compõe o nosso grande Corpo e o Corpo Coletivo; o terceiro realizar uma arte híbrida, performática, atravessada pelo teatro, pela música, pelas artes plásticas, pela poesia e pela filosofia onde as esferas entre as expressões artísticas não só se borram, mas se atravessam.

Função, deveres e obrigação de cada ambulante.

  1. Seguir sempre o IMPULSO GENUÍNO.
O impulso genuíno como o nome mesmo já sugere é um impulso que não segue padrões pré-estabelecidos ou racionalizados, é um impulso que nasce lá “dentro” da gente e quando percebemos já se apoderou do nosso Corpo físico, transformando-o em Corpo plástico completamente estético para executar uma ação qualquer.
Em uma situação conflitante veja SEMPRE as duas vias, a negativa e a positiva, mas opte em agir SEMPRE pelo impulso genuíno. Assim você fica isento de qualquer crivo pessoal, que SEMPRE acaba em mágoas e rancores. Mas para isso é necessário pairarmos sobre os pensamentos mesquinhos, sobre a doença e sobre o sintomático, que nos levam a lugar nenhum. 

2.      Ser um INTERLOCUTOR potente.
A interlocução se estabelece primeiro num plano individual para depois expandir para o “mundo” externo. Quando a interlocução individual é precária inevitavelmente acarretará interlocuções fracas com o ambiente externo. Como adquirir uma interlocução genuína consigo mesmo? Talvez se autorizando para si e não esperando uma autorização externa. Mas para estar apto a se autorizar é necessário ter plena consciência de seus desejos e não roubar ou pegar emprestado desejos de outros, é estar descarnado, rasgado e fragilizado. Talvez a fragilidade seja inerente à condição de interlocutor. Não ter respostas prontas para as próprias perguntas, não planejar metodicamente o caminho a seguir, acreditar no acaso-objetivo, acreditar na falha pela via positiva e não negativa, enfim, estar no estado de fragilidade é estar aberto para a VIDA a cada instante e em qualquer espaço. Como conseguir estar nesse estado de fragilidade? É estar em labuta constante consigo mesmo, é se colocar a prova a qualquer momento, é deixar de ser orgulhoso, é estar sempre disponível para o outro, é acreditar que não só faz parte do milagre da vida mas é o próprio MILAGRE.

  1. Ser um agente AUTÔNOMO.
É necessário criar e estabelecer uma filosofia individual para alcançar a liberdade. Nesse sentido, torna-se imprescindível o desenvolvimento do Corpo Intelectual, Emocional e Espiritual.
É pelo desenvolvimento do Corpo Intelectual que exercito a minha postura crítica perante à vida. Organizando e formando o pensamento tem-se a possibilidade de esculpi-lo para atender a uma demanda política e social da vida no mundo. No pensamento qualquer homem é livre e a partir de um pensamento livre qualquer ação assume um valor mais preciso e coerente.
O crescimento do Corpo Emocional se dá pelo exercício em atuar na via da emoção que expande, a partir das emoções primais e presas em si mesmas. Atuar pela via da emoção que expande é estar em ato criativo e gerativo.
Busca-se com o exercício do Corpo Espiritual um Homem de espírito Total e multilateral e não um homem fragmentado, materialista e unilateral. É a tentativa de retornar ao originário: a busca pela compreensão do espírito e da alma.
Isso significa que não deve esperar que o outro faça, produza ou elabore por você; saiba se impor ou se colocar perante os outros; não roube ou pegue emprestado discursos de outros ;não peça permissão para executar algo, apenas compartilhe. Seja Mestre de si mesmo.
Assumindo uma postura autônoma, a hierarquia perde sua função. Se cada indivíduo se vê parte de um todo, cada parte sabe seu lugar e sua função de acordo com a tarefa a ser executada. No Coletivo as funções podem ser móveis e flexíveis. Se um integrante foi produtor em um projeto não significa que será sempre e assim por diante, ou seja, as funções não são vitalícias, mas a cada projeto a um sistema harmônico que rege as relações.
Em qualquer sistema harmônico as relações são simétricas, ou seja, não há medidas de valor, sendo assim se você acha que está sendo excluído ou excluindo alguém, se seu espaço é maior ou menor que dos outros, é porque as relações estão assimétricas e não simétricas como deveriam estar. Neste caso o melhor caminho é se colocar imediatamente para eliminar qualquer ruído nas relações e comunicações.

O que se propõe o Coletivo Ambulante?

            Ser um lugar de pesquisa e investigação do espaço físico, interno e mental; do tempo; das relações e seus estímulos, reações e reforço; do Eu e todos os corpos que o compõe:Corpo físico, plástico, emocional, intelectual, lúdico, sensível-intuitivo e espiritual; do cosmo como entidade cambiante, em constante devir. Todos esses elementos se interseccionam de uma forma orgânica e estética para realizar uma Ação como obra artística social e política, que tenha como objetivo o retorno ao originário da compreensão do espírito e da alma humana.

Ser um lugar onde o desconhecido, o caos, o acaso, a falha e o risco sejam os norteadores do processo. Para isso é necessário mudar de direção e abandonar o conhecido, que se ama, por um desconhecido que não se pode amar ainda e assim cumprir um ato de FÈ. Entender o caos como ordem natural para se alcançar à harmonia cósmica. O acaso torna-se objetivo. O acaso-objetivo é “o encontro de uma casualidade externa e de uma finalidade interna”, através da falha, ou brecha, interstício (pequeno espaço vazio entre o todo), lugar do entrevisto, entre-dito, espaço onde se vacila, rasgo, greta, fenda, fratura, entre-meio. A falha enquanto o lugar do entre, do relacional, do desterritorialisado, o próprio não-lugar da identidade, o lugar a-pátrida, a-teológico, a-científico, enfim o lugar da falha como espaço do imaginário; e é pela experiência da falha que encontramos o espaço-tempo da nossa existência. E o risco sendo inerente a qualquer ação, é a possibilidade de aumentar a nossa abertura para o milagre da vida entrar. 

            DES-habituar e DES-mecanizar, os que integram e os que participam. Trata de buscar maneiras alternativas de lidar com o estabelecido, de experimentar estados psicofísicos alterados, de criar situações que disseminam dissonâncias diversas: dissonâncias de ordem emocional, biológica, ideológica, psicológica, espiritual, identitária, política, estética e social.