Relato do dia 22 de março de 2010
É bom não esperarem nada de poético de um relato feito por mim. Não sou uma pessoa sensível. Por quê?
Por que eu quis ser assim.
Houve um momento em que desejei me transmutar em pedra. Isso acontece sempre com gente cuja candura é ferida. Eu sou uma pedra.
Claro que não foi fácil essa transmutação. Não chorar nunca na frente dos outros, sorrir também não, não se tocar, não sentir tesão, se arrepender de todo e qualquer ato libidinoso. Afinal, pedra não tem sexo.
Ser grossa sempre com as pessoas, fugir das que tenham a cara de boazinhas. Ser dura, dar porrada nas que querem te amar. Ser ignorante de pedra.
Anos me transmutando...
Não sei se consigo romper comigo mesma. Teria que jogar fora anos de trabalho.
Ser miserável, frágil, imunda, não me dar importância? Oh Deus, eu já fui muito ferida.
Eu, que aprendi a bater, terei que apanhar?
Não sei se posso me desapegar de mim...
Sou uma pedra. Meu Deus, eu Sou uma pedra.
Uma descoberta sobre as pedras.
Sabe moça, as pedras não são tão duras quanto aparentam ser. Sabe aquele ditado? Água mole em pedra dura tanto bate até que... Pois é se num é.
Você sabia que as pedras rolam?
E você sabe como se formaram as areias da praia? Do desgaste de grandes pedras.
É isso aí moça, pedra também rola.
ResponderExcluirEntão role!!!
Pedras são poesias disfarçadas
ResponderExcluirDeixo aqui um poema que traduz essa frase
POEMA DA PEDRA BRUTA
Eu pedra bruta do tempo
que me passou esquecido
no inventário do momento
de viver de eu ter morrido
percorro o longo decurso
de todo o tempo perdido.
Eu profetas de gomorras
ruir de torres tombadas
sodomas de meus sentidos
de extintas almas salgadas
artesão de antigos sonhos
de mãos rudes algemadas.
Eu perdido se me encontro
sensível ao que não sente
descaminho de um futuro
de algum passado presente
vou pedra fingindo a carne
e sangue fingindo a gente.
Eu castelos de crepúsculos
naus sombrias sobre vagas
eu mortalha dos moluscos
de esperanças naufragadas
faz-se em mar a minha vida
das marés que são choradas.
Eu templo de deuses mortos
becos tortos sem calçadas
vendo o mundo das janelas
que o amor deixou fechadas
sou um elo entre essas vidas
que se atraem separadas.
Hoje sou pastor de rios
sentinela das colinas
mirante das fortalezas
nas ameias das neblinas...
É por mim que à noite
os ventos vêm chorar
sobre as ruínas.
A. Estebanez
(Afonso Estebanez Stael-RJ-Brasil)