terça-feira, 23 de março de 2010

A pedra

Relato do dia 22 de março de 2010

É bom não esperarem nada de poético de um relato feito por mim. Não sou uma pessoa sensível. Por quê?
Por que eu quis ser assim.
Houve um momento em que desejei me transmutar em pedra. Isso acontece sempre com gente cuja candura é ferida. Eu sou uma pedra.
Claro que não foi fácil essa transmutação. Não chorar nunca na frente dos outros, sorrir também não, não se tocar, não sentir tesão, se arrepender de todo e qualquer ato libidinoso. Afinal, pedra não tem sexo.
Ser grossa sempre com as pessoas, fugir das que tenham a cara de boazinhas. Ser dura, dar porrada nas que querem te amar. Ser ignorante de pedra.
Anos me transmutando...

Não sei se consigo romper comigo mesma. Teria que jogar fora anos de trabalho.
Ser miserável, frágil, imunda, não me dar importância? Oh Deus, eu já fui muito ferida.
Eu, que aprendi a bater, terei que apanhar?
Não sei se posso me desapegar de mim...

Sou uma pedra. Meu Deus, eu Sou uma pedra.

Uma descoberta sobre as pedras.

Sabe moça, as pedras não são tão duras quanto aparentam ser. Sabe aquele ditado? Água mole em pedra dura tanto bate até que... Pois é se num é.
Você sabia que as pedras rolam?
E você sabe como se formaram as areias da praia? Do desgaste de grandes pedras.

2 comentários:

  1. É isso aí moça, pedra também rola.
    Então role!!!

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  2. Pedras são poesias disfarçadas
    Deixo aqui um poema que traduz essa frase

    POEMA DA PEDRA BRUTA

    Eu pedra bruta do tempo
    que me passou esquecido
    no inventário do momento
    de viver de eu ter morrido
    percorro o longo decurso
    de todo o tempo perdido.

    Eu profetas de gomorras
    ruir de torres tombadas
    sodomas de meus sentidos
    de extintas almas salgadas
    artesão de antigos sonhos
    de mãos rudes algemadas.

    Eu perdido se me encontro
    sensível ao que não sente
    descaminho de um futuro
    de algum passado presente
    vou pedra fingindo a carne
    e sangue fingindo a gente.

    Eu castelos de crepúsculos
    naus sombrias sobre vagas
    eu mortalha dos moluscos
    de esperanças naufragadas
    faz-se em mar a minha vida
    das marés que são choradas.

    Eu templo de deuses mortos
    becos tortos sem calçadas
    vendo o mundo das janelas
    que o amor deixou fechadas
    sou um elo entre essas vidas
    que se atraem separadas.

    Hoje sou pastor de rios
    sentinela das colinas
    mirante das fortalezas
    nas ameias das neblinas...
    É por mim que à noite
    os ventos vêm chorar
    sobre as ruínas.


    A. Estebanez
    (Afonso Estebanez Stael-RJ-Brasil)

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