quarta-feira, 7 de julho de 2010

Nos contornos da feminilidade...

(...)

"Como chamar de outro modo aquilo horrível e cru, matéria prima e plasma seco, que ali estava, enquanto eu recuava para dentro de mim em náusea seca, eu caindo séculos e séculos dentro de uma lama - era lama, e nem sequer lama já seca mas lama ainda úmida e ainda viva, era uma lama onde se remexiam com lentidão insuportável as raízes de minha identidade.
Toma, toma tudo isso para ti, eu não quero ser uma pessoa viva! tenho nojo e maravilhamento por mim, lama grossa lentamente brotando.
Era isso - era isso então. É que eu olhara a barata viva e nela descobria a identidade de minha vida mais profunda.
Em derrocada difícil, abriam-se dentro de mim passagens duras e estreitas.

(...)

Para saber o que realmente eu tinha que esperar, teria eu antes que passar pela minha verdade? Até que ponto eu agora havia inventado um destino, vivendo no entanto subterraneamente de outro?"

(*Trecho do Livro: A Paixão Segundo G.H. de Clarice Lispector)

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Fresta - Um Ensaio para Clarice Lispector

Ela estava ali, parada e totalmente imóvel.
Eu olhava-a, fitada-a de um modo vazio, por vezes, cabisbaixo. Por uma fresta, passava.
Meu olhar era seco, assim como a minha alma. Toda seca, eu. Meu corpo era somente a materialização de minh'alma estúpida. Pontos de um olhar oco, ríspido de não mais haver lágrimas.
Lá fora, tudo girava. Vida.
Pensara eu, as vezes que, esta fosse a grande mentira do mundo; viver.
A luz que corrompia-me, era um força. Força era eu? Metáfora.
Queria que meu corpo fosse um fresta de luz, para que passasse por aquele milímetro de espaço calculado.
Mas, chegou a noite, diante de meus olhos a escuridão tomou forma.
Estou em tudo, tudo esta em mim, como num exalar de pensamentos; pura epistemologia - pensara.
A noite instalou-se e levara-me consigo - eu queria morrer para depois, existir. Morrer faz bem e dói...
Mas, quem disse que não precisa doer?

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