terça-feira, 25 de maio de 2010

Colagem?

Não quero formar a vida porque a existência já existe. Sem uma palavra. Escuta, não dou lições nem esmolas, quando me dou é por inteiro. Abraço o homem que desmaia... e ergo-o com vontade irresistível. Ouvi o que foi dito do universo, há milhares de anos tenho ouvido; e até que não é nada mal... Mas é só isso? Agora eu conheço esse grande susto de estar vivo, tendo como único amparo exatamente o desamparo de estar vivo. Um grito no meio da multidão, minha própria voz, redonda e arrebatadora e definitiva, aceitando esboços grosseiros e divinos pra que se completem melhor dentro de mim. Ofereço-me de graça a cada homem e mulher que vejo. O sobrenatural não tem importância. Eu espero minha vez de me tornar um dos supremos, me metendo aqui e agora na tocaia uterina das sombras. Cheguem, meus filhos, cheguem mais perto. Agora o intérprete solta a sua coragem... já ensaiou seu prelúdio nas palhetas dentro de si.

(Colagem de textos de Clarice Lispector e Walt Whitman, por Flávia Tavares – Esboço de dramaturgia para Jovem Alado - Leo Andrade)

4 comentários:

  1. Flávia...parece que vc estava na Virada Cultural assistindo e narrando o momento em que o homem abraça o Léo...

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  2. A collage é um ato de provocação, é uma ação autêntica que dá passagem a uma força formadora.

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  3. Flavinha, tenho certeza de que estava lá.

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