quarta-feira, 4 de agosto de 2010

Direcionando olhares II - O ACONTECIMENTO







Dia 04 de agosto às 10h, três artistas fizeram uma manhã fria e chuvosa de uma cidade industrial acontecer. Durante 2h executaram simples ações, mas de uma potência indisível, quimérica, quase etérea.

A primeira artista vestida com um vestido longo branco, belamente enfeitada e com luvas cirúrgicas se colocou à frente da Câmara de Cultura, prédio tombado pelo Patrimônio Histórico, com vassoura, balde e esfregão para limpar a faxada do prédio sujo e depredado. Ainda tímida com a vassoura na mão comprimentava as pessoas que passavam apressadas sem olhar para ela. Na medida em que ia varrendo a sujeira do passeio ia limpando o espaço para o acontecimento, que logo se deu: as pessoas começaram a retribuir o bom dia e a sorrir-lhe. As pessoas começaram a parar e a observar, algumas perguntavam o que estava fazendo, e ela com um sorriso respondia: Estou limpando, apenas limpando; outras a parabenisavam pela ação.

Logo chegou outra artista, a mesma do dia anterior, com as flores na mão para serem distribuídas. Cantando as duas emanavam serenidade e algo muito contagiante naquele espaço.

Em seguida chegou a terceira artista, com um vestido de um tempo de outrora, uma mala verde em uma mão e um espelo grande na outra. Sentou em sua pequena cadeira, abriu a mala e tirou algumas fotos, fotos suas de outros tempos.

A simples cena logo chamou a atenção, e direcionou o olhar de vários espectadores, que não mais desconfiados, sorriam-lhes retribuindo o bom dia. Claro, nem todos estavam abertos para o milagre que se estabeleceu-se ali. Havia os carrancudos e casmurros que tinham pouca abertura para a vida, mas já não eram tantos como no dia anterior.

O tempo ia correndo e um fotógrafo de um jornal local apareceu para registrar o acontecido. Pena sua lente viciada não poder registrar o invisível que se deu alí.

O ACONTECIMENTO é um ato provisório, que nasce do mais profundo desespero de se encontrar a VIDA. A VIDA que está num simples olhar, numa boa conversa, num compartilhar, na limpeza... numa flor.
NÃO na virtuosidade de uma grande eloquência.

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